09 março, 2007
13:38.
Última carta
Queria esquecer apenas,
me lançar no conforto da escuridão,
me entregar aos seus braços abertos,
nas trevas não há solidão.
E beber do vinho do olvido,
tirar da boca este gosto amargo,
de sonho há muito perdido.
Porque no fundo é uma grande peça,
uma comédia de erros e incertezas,
o povo a rir de nossas fraquezas,
e aviso, não há quem impeça
o espetáculo uma vez começado.
Por mais que eu tenha tentado
os atos se seguem sem intervalos,
a platéia aplaude os nossos pecados,
pouco importa se estamos cansados
o roteiro ainda nos quer açoitados.
Porque então insisto nas falas?
Nesse texto ridículo, drama barato,
antes às trevas fizesse um trato
trocar minha alma por algo que valha.
Pois se o silêncio tanto me falta
e busco uma paz tão distante,
digo-te, deixo de vez a ribalta
escrevo esta carta no último instante.
(23/07/2004)
Aardvark jr.